Todas as Letras do Arco-íris, Editora Resistência


No mês do orgulho LGBTQIA+ a Editora Resistência lançou uma coleção de livros que se chama Todas as Letras do Arco-íris. E digo que, dificilmente algo vai me surpreender e me deixar tão feliz no segundo semestre do ano quanto essa coleção. Eu já fiz vídeo no Igtv de todos eles, mas vim falar sobre eles aqui, vou deixar o link pra vocês lerem pelo Kindle Unlimited e meu vídeo aqui também. 

E também aproveitei pra conversar com todos os autores e perguntei o que levou eles a escrever sobre o que escreveram. Pega seu café, seu chá, e vamo conversar sobre nossas cores!



Livro L - O centro de Todo o Caos - Marina Feijóo




No auge de uma crise depressiva, a protagonista, sem nome e sem endereço, decide tomar atitudes drásticas: fugir para outro estado e cortar todos os seus laços. Após seis meses no Rio de Janeiro, ela se vê obrigada a voltar para suas raízes paulistas, só que não esperava retornar e notar que o mundo continuou girando na sua ausência.

Sem conseguir encontrar suas amigas ou família, ela se une à ex-namorada para tentar reconectar os pedaços do passado e entender o que aconteceu com suas pessoas queridas. E, no meio dessa jornada indesejada, ela começa a juntar seus próprios cacos, em um processo árduo de encarar as consequências de seus atos.

Gatilho: Depressão, suicídio. 

“O Centro de Todo o Caos surgiu em meio ao meu próprio caos particular. Foi um reflexo do momento que eu estava vivendo e que precisava de um encerramento. Eu escrevi essa novela porque eu precisava ouvir a mensagem ela tinha a passar e sabia que outras pessoas também precisavam. Foi uma forma de reorganizar meus sentimentos, fazer a paz com o fantasma que me acompanha e entender que é preciso continuar. Saúde mental é um tema muito negligenciado e, quando é tratado, muitas vezes beira o sensacionalismo. Representações de transtornos feitas com responsabilidade e empatia são muito necessárias, para ajudar as pessoas a se situar e buscar ajuda. Isso tudo foi o que gerou essa novela.”





Livro G - O terno Laranja - Lito Garcia




Depois da queda do antigo regime, o país passou a ser governado por cinco famílias ricas e poderosas, os patriotas. Enquanto o resto da população ficou dividida entre miseráveis e servos.

Brás não é um patriota. Junto com a mãe, ele serve a família de Pedro, sem questionar e nem ver o mundo ao redor. Dentro da mansão, Brás crê fazer parte do meio da pirâmide e, ao se apaixonar pelo herdeiro de uma das famílias mais poderosas do país, passa a acreditar que pode ser aceito no topo.

Mas Brás não está no meio. Ele está na base. Junto com os miseráveis.

Brás será capaz de escalar todos os degraus rumo ao topo, para ficar ao lado de Pedro? Será que os patriotas aceitariam ali alguém que sempre esteve na base?

“Foi muito difícil trabalhar com um personagem como o Brás, cada pensamento, cada atitude e a motivação do personagem são detalhes que me incomodam muito. A minha literatura sempre foi feita para retratar a realidade, mesmo num conto distópico como este. E a realidade é que ainda não nos olhamos como irmãos, como iguais. Nossas diferenças gritam, falam mais alto. Simplesmente ignoramos a dor do outro, a vivência alheia e os anseios. Por muitas vezes, a sociedade ao nosso redor se torna invisível e desfilamos com nosso protagonismo, como se não houvesse mais ninguém no mundo.
O terno laranja é um pedido de socorro, um grito, talvez para mim, talvez para o mundo. Precisamos parar de focar mais no eu e darmos mais foco para o nós. Todos podemos vencer nossas lutas sozinhos, mas quando temos a ajuda do outro, tudo se torna um pouco mais fácil.”




Livro B - Quando Fernando Morreu - Beatriz Lúcio 




Virgínia amou Fernando por quase vinte anos de sua vida. Ele era seu companheiro. Seu marido. Seu amante. O pai de sua filha. Com a morte dele, tudo desmorona. Os alicerces que a mantinham segura caem por terra. Antigos medos retornam para atormentá-la. Enfrentar um dia após o outro parece impossível, quando não se consegue enfrentar nem o que você realmente é.

“Para esse projeto eu queria escrever algo com propriedade. Algo que eu pudesse transmitir conhecimento de causa, sabe? Acho que a bissexualidade precisa ser abordada de forma real. A invisibilidade que nós sofremos já é muito grande, então, quando vi essa oportunidade, quis fazer algo que abordasse grandes problemáticas que enfrentamos e também desse alguma esperança para as pessoas.” 




Livro T - Encontre Joana - Amanda Or e Fabrício Fonseca




Ariel tem um poder especial: é capaz de sentir aquilo que outras pessoas estão sentindo. Um dia, acorda com um medo profundo de algo que não sabe explicar, o que sabe é que aquele sentimento pertence ao seu amor de infância, que saiu de sua vida há mais de dez anos.

O misto de emoções terríveis da outra pessoa, faz Ariel se empenhar em uma busca incansável, na esperança de não chegar tarde demais

Joana tem uma pequena lista de seus maiores medos: ser morta e ser expulsa de casa, que talvez sejam os medos de toda travesti brasileira, vivendo no país que mais mata pessoas transexuais no mundo.

Quando se vê frente a frente com um deles, ela se vê jogada na rua, sozinha, sem dinheiro e com fome. Mas o pior ainda estava por vir.

Porém, uma busca incansável pode mudar os rumos da vida de Joana e impedir que o outro medo que ela tem se realize.

Uma história sobre ser, sentir e se importar. 

“A motivação veio pela vontade de criar uma história que desse voz a vivências tão ignoradas e também mostrar que é possível vencer quando a sociedade diz que você não deve nem mesmo tentar. Foi uma forma também de derramar a dor que tínhamos dentro de nós e mostrar que ela pode se tornar um pouco de paz!”





Livro Q - Arquipélago do Mistério - Ana Luísa Ricardo 




Ash queria ser, sem rótulos ou checklists. Não “ele” ou “ela”. Apenas Ash. Mas o mundo, constantemente, se incomodava com isso, oprimindo seu verdadeiro Eu e obrigando Ash a caber dentro de um molde social.

Depois de tanto tempo ouvindo quem era ou deveria ser; depois de sofrer perseguições na escola e em casa; depois de não saber lidar com o sentimento que crescia em seu coração, Ash começou a duvidar de si e a fazer uma pergunta recorrente: Quem sou eu?

Um mergulho no mar, um arquipélago misterioso e um mapa foram os elementos necessários para que Ash descobrisse, através de uma viagem fantástica, a resposta para esse questionamento existencial que rondava seus pensamentos mais profundos.

Gatilho: Pensamentos suicidas

“A Maria havia me falado sobre o projeto e me convidou a participar, mas me avisou que todas as letras haviam sido escolhidas, exceto uma: Q. Eu nunca tinha ouvido falar sobre o que era essa letra e descobri que era uma letra complexa sobre a Teoria Queer. Apesar do desafio e de eu não ser LGBT, decidi estudar sobre o tema e escrever o conto. Eu já estava pesquisando bastante sobre O mapa da alma, do Carl Jung, por conta do álbum do BTS. Então, juntei essa teoria do Jung com a Queer e surgiu o conto. Eu acredito muito nessa teoria, ela vai de encontro ao meus ideais de que almas não têm gênero, portanto, podemos nos identificar de várias formas possíveis e não existe certo ou errado. Existe um padrão, mas é imposto por uma sociedade e não necessariamente precisa ser seguido. Isso me motivou a escrever o conto, para mostrar que as almas são mais complexas do que um duologia de gêneros padronizados.”





Livro A - Os Caçadores de tempestade - Lais Lacet



Zepelins e tempestades são comuns na Nova Era, assim como as crianças levadas para trabalhar nas nuvens, responsáveis por captar a eletricidade dos raios.

Tifa foi uma dessas crianças.

Desde que tomou o Oyá, ela fez da libertação dos outros sua missão e junto a Nico e Nadira trouxe escolha para diversas crianças. Porém, cinco meses atrás, Nico foi capturado em uma operação em Argel e a capitã não se permite descansar enquanto não salvá-lo.

É loucura, ela sabe, e Tifa pode pôr tudo a perder. Mas às vezes a luta também é sobre resgatar os seus e sobreviver outro dia.

Como a maior parte das minhas histórias, Caçadores de Tempestade nasceu “do nada”, ao menos a parte da premissa. Quando escrevo eu costumo pensar primeiro no mundo para depois montar os personagens e eu tava no Twitter quando apareceu uma pergunta do tipo “se você estivesse preso na última música que ouviu, onde estaria?” e eu tava escutando Thunderclouds, de LSD. Na hora eu brinquei que estaria numa kombi voadora caçando tempestades.Depois disso veio a Maria com a proposta do Todas as Letras do Arco-Íris e eu sempre quis uma personagem ace. Como alguém que está na escala cinza, raramente vejo personagens com os quais posso me identificar e é até difícil falar sobre por eu estar em um relacionamento há alguns anos… Eu comecei a juntar uma ideia com a outra e a Nova Era foi se formando. Eu rabisquei o roteiro basicamente no dia seguinte e fui acrescentando as ideias à medida que vinham, quando finalmente pude escrever, a história fluiu muito rápido.Acho que no fundo eu escrevi a Tifa por desejar uma personagem assexual que estivesse um relacionamento estável, mas eu não queria focar no romance, ou na descoberta, ou em qualquer coisa. Encarar pessoas LGBT+ como somente isso é um reducionismo que me incomoda e muito, especialmente dentro da literatura e outras mídias. Cheguei a comentar que escrevi ela pela necessidade de ver mulheres protagonistas cujo romance não é mais que sub-secundário, a gente é criada na ideia de completude pelo amor romântico.






Livro + -Todas as Cores do Benfica -  Maria Eduarda Duarte 




Na capital cearense, o Benfica brilha as sete cores. Naquela noite de 17 de maio, as pessoas param e uma certa sigla se diverte para celebrar o que há de mais importante: o amor. Próprio ou não, aquele sentimento reluz o arco-íris que há em cada um.

Porém, uma parte, um símbolo, ainda teme a invisibilidade: +, tão distinto e plural quanto seu significado. Estará ela sozinha? Passado durante uma festa de comemoração, "As cores do Benfica" é um conto sobre o quê, porquê e para quê (r)existimos.

“Eu era nova quando descobri que havia algo de estranho em mim. Não errado, só... diferente. Eu tinha 16 quando descobri que não me encaixava em lugar nenhum. Nem aqui, nem lá. Eu não era hétero, mas minhas cores - minhas letras - não se encaixavam naquele mundo. De onde eu vim? Quem eu era? Escrever As Cores do Benfica veio de um desejo de se encontrar, no bairro LGBT da cidade em que moro, a personagem, +, se encontra perdida a procura de seu espaço. Ela observa todos os outros, mas não se mescla. Procurei coragem para escrever sobre algo que vai muito além de mim, é sobre sociedade. É sobre quem nós somos, como nos tratamos e, principalmente, do que somos feitos: de amor.” 






Com falei anteriormente, dificilmente algo vai me surpreender e me deixar tão feliz quanto essa coleção. Nos tempos que estamos vivendo cada vez mais se torna necessário ter gente como esses autores, que tenham coragem de escrever e mostrar a realidade e jogar luz na nossa existência, na nossa luta. Fica aqui o meu mais sincero obrigada a todos os envolvidos, de verdade mesmo, vocês merecem o mundo! Obrigada por isso!

25 comentários:

  1. Nós que agradecemos! Sem o apoio dos leitores nossas vozes seriam meros ecos no abismo. Com vocês podemos ir além, podemos transformar. Obrigado!

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    1. eu que agradeço pela sua existência, reizinho sem defeitos <3

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  2. Nossa que lindo, eu me encantei pelas capas, muito lindas, parabéns pela iniciativa e divulgação, eu mesma não conhecia essas obras, e agradeço.

    Beijos

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    1. A Maria realmente lacra muito quando o assunto é capa bonita kk

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  3. Que coleção linda <3
    Amei demais a iniciativa da editora e já dá vontade de ter todos

    Sai da Minha Lente

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    1. a Resistência não tem nenhum defeito mesmo <3
      Leia, tão sensacionais!

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  4. Olá, tudo bem? Caramba, que demais essa coleção! Muito lindas as capas, aliás. Nunca li um livro do gênero, mas tenho bastante curiosidade. Adorei!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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    1. vale a pena tentar ler, são temas que nos fazem pensar bastante, a gente ta precisando disso!

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  5. Olá , você trouxe muita leitura boa gostaria de ler todos , mais escolhi O centro de Todo o Caos ,para iniciar .

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    1. Essa novela mexeu muito comigo, foi a primeira que eu li também, na verdade, eu li na ordem de lançamento, que são a ordem das letras da sigla, espero que goste! Me conta sua experiencia depois!

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  6. Opções mais que variadas! Difícil é achar meu gosto dentro delas... rsrsr... Ultimamente estou mais preso aos suspenses novamente!

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  7. Uau! Não conhecia esses livros, mas gostei de saber que cada um aborda um tema importante para a atualidade. Acho que eu daria uma chance :D

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  8. Oii Bianca

    Muita novidade interessante, gostei de Encontre Joana mas principalmente de O centro de todo o caos, porque esse vazio, esse medo, e essa necessidade de recomeçar e iniciar uma busca pessoal fala demais com a maioria das pessoas. Achei a sinopse super interessante

    Beijos, Alice

    www.derepentenoultimolivro.com

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  9. Caraca, que coleção da ora. Parece que cada autor tocou em um tipo de tema que anda sempre assolando a vida de algumas pessoas. Parabéns à editora por uma coleção desse nível, com assuntos pertinentes, e que não deixou nada a desejar no quesito de além de tudo, ser uma coleção LINDA visualmente.

    Abraços

    Carol, do Coisas de Mineira

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    1. mas foi exatamente isso. Na verdade, cada autor pegou uma letra, e escolheu a forma que ia abordar ela

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  10. Oi, tudo bem? Tenho visto muitas editoras dedicando um espaço aos livros desse gênero. É uma iniciativa muito interessante principalmente por mostrar respeito e empatia pela minoria. Não tenho costume de ler livros com esse tema mas recebi alguns e preciso começar a lê-los. Achei incrível os livros que você trouxe vou procurar saber mais sobre ele. Um abraço, Érika =^.^=

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    1. mana, vale a pena. juro, é uma coisa tão didatica e tão linda, que nossa senhora, zero defeitos!

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  11. Como é que eu faço agora que não tô podendo gastar e você me mostra essa coleção maravilhosa!!! Fui lendo as sinopses, as motivações dos autores, e já quero ler TODAS essas histórias!!! São super criativas e sinto que vou amar todas essas leituras.

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  12. Essa editora é tão linda, só queria ser notada por ela ): hahahaha Esse primeiro livro me chamou a atenção porque estudo a tematica do suicidio na literatura, me renderia uma ótima pesquisa ahaha obrigada pela dica minha nene.

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    1. é muito bom. esse foi o livro que eu mais me identifiquei (porque será ne?!) e eu achei muito bom o que a Marina escreveu que o fato da personagem ser lesbica não tem nada a ver com a depressão ou os problemas dela, muito pelo contrario, isso acaba ajudando ela!

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  13. Nenhum deles conhecia para ser sincera om você mas, o primeiro achei assim bem atual no que estamos vivendo hoje com essa tal perseguição... (não que os outros livros não seja) mas gostei muito

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