{OPINIÃO} Fun Home - Uma tragicomédia em familia

Bom, acho que o assunto de hoje pode ser um tanto quanto delicado. Na verdade, ele é sim muito delicado e eu não sei se abordarei tudo que essa GN me passou de uma forma que te faça querer ler, mas espero que eu consiga.

*fonte: Amazon*

Aqui, nós temos uma GN que é um livro de memórias (eu não sei se seria adequado chamar isso de autobiografia, até porque ele é muito mais que isso), sobre essa instituição chamada família, sobre sexualidade, sobre os rumos da vida, sobre segredos, sobre uma penca de coisa.

Vamos do começo, logo depois que a Alison (autora e personagem principal da trama) revela pra sua família que é lésbica, o pai dela se suicida. Calma, não foi por causa da lesbiquisse da filha que ele se matou e é isso que mais me encanta na história, a comovente, conturbada e surreal que a Alison tem com o pai dela.

O pai da Alison, sempre foi uma figura meio distante e abstrata na vida da filha, ele é descrito como “agente funerário de terceira geração, professor de inglês do ensino médio, restaurador compulsivo da casa vitoriana da família, especialista em preservação histórica, um pai distante e frio e um homossexual enrustido que se envolveu com alunos e com o baby-sitter de seus filhos” não existe descrição mais assertiva a cerca deste homem.

Eu nem sabia que essa era uma GN sobre uma lésbica, até porque eu ganhei ela num sorteio do meu amigo Deko do @primeiraorelha e cara, leiam livros às cegas, vale a pena hahahah. Mas voltando, a GN é dividida em 7 partes e tem uma narrativa não muito linear que discute a vida do pai. 

Durante toda a narrativa, conseguimos ver que a Alison sempre foi uma pessoa muito observadora, que conseguia ler as entrelinhas daquela família extremamente peculiar e quando decidiu falar sobre isso, revisitou tanta coisa, que parece até absurdo essa relação que eles tinham.

Por incrivel que pareça, esse foi meu primeiro contato com GNs e eu não poderia estar mais feliz. 

Mas acho importante falar que talvez, seja um pouco dificil sentir empatia pela narrativa porque ela sempre foi uma pessoa muito culta, assim como o pai, então ela passa o livro todo comparando o pai à personagens de livros e utilizando de metáforas pra tudo, talvez alguém não entenda muito bem as comparações, eu tive que ir pesquisar pra poder entender algumas coisas, mas não que isso seja um empecilho, pelo menos pra mim não foi.

É muito legal essa discussão que a Alison levanta sobre a sexualidade, na adolescencia dela, tinha acabado de acontecer os protestos de Stonewall, então são coisas que a gente se pega pensando também. Sobre o fato do pai projetar a feminilidade enrustida dele na filha que é caminhoneira (eu posso falar porque sou sapatão rs) e a Alison projetar os gostos masculinos dela no pai, foi uma leitura que me deixou sem ar e muitas vezes me peguei pensando nisso.

Alison sempre soube que era lésbica, ela só sabia. Quando ela contou ao pais, por meio de uma carta, o pai respondeu com um telefonema deduzindo que ela já sabia sobre os casos dele e tudo o mais, dizendo “ah, você é um ser humano, tudo bem experimentar; você não precisa estar dentro de uma caixa” coisas assim. A Mãe dela também responde com um telefonema, mas é nessa parte que a Alison descobre sobre o pai dela (isso ela já tava na faculdade).

Bom, eu não quero me alongar mais ainda nesse assunto, mas a GN tem uma parte dois, que fala sobre a mãe da Alison, e eu nem preciso falar que eu já tô me coçando pra ler.

Acho que falta muito das pessoas a coragem de falar abertamente sobre a sexualidade como a Alison fez, ainda mais desenhar coisas que dificilmente seriam “bem vistas” e abordar esse assunto sobre o pai dela foi muito corajoso. Com toda certeza eu quero revisitar essa história depois de ler sobre a mãe dela, realmente, ela merece todo o reconhecimento que tem.