Agosto é o mês da visibilidade lésbica e eu produzi muita coisa voltada pra isso (mais do que o normal) e pra essa última semana do mês eu trouxe um papo com minha amiga Lis Selwyn que escreve livros lésbicos e foi um papo incrivel demais, acompanha ai!
Oi Lis! Primeiramente, muito obrigada mesmo por tirar um tempinho pra
esse papo, sei que a gente conversa o dia todo, mas obrigada de coração! Pra
começar, conta pra gente quem é você no rolê das sapatonas?
- Olá Bia, primeiro quero agradecer o
convite e espaço e te parabenizar por tanto conteúdo incrível, principalmente
neste mês da visibilidade lésbica!
Bom, vamos lá, se
for no rolê mesmo, provavelmente eu sou a que chega no lugar procurando onde
sentar...hahahah. Brincadeiras à parte, meu nome é Lis Selwyn, tenho vinte e
nove anos e sempre gostei de escrever, mas me assumi como escritora em
2014/2015, quando estava no processo de criação do meu primeiro livro
publicado, Entre Páginas. Além de escritora, sou nutricionista, advogada e
humana do gato mais simpático do mundo, o Oliver.
Estamos no mês da visibilidade lésbica e nosso papo vai ser pautado
nisso, então conta um pouco como foi o seu se entender lésbica?
- Eu
acho que o processo para me entender como mulher lésbica foi até mais longo do
que o processo para entender que eu me sentia atraída por mulheres. Quando eu
comecei a escrever com a intenção de publicar, eu queria que meu livro fosse
protagonizado por mulheres que amam outras mulheres. Mas eu só aprendi a
importância de rotulá-las, posteriormente, quando passei a me entender também
como mulher lésbica. Em uma sociedade que apaga todos os dias mulheres
lésbicas, nós precisamos mostrar ao mundo que existimos.
Você escreve livros lésbicos, onde as personagens se afirmam dessa
forma. Quando que surgiu a vontade de escrever sobre isso? Como foi esse
processo, qual foi o primeiro livro que você escreveu?
- Eu
sempre gostei de ler e sempre fui o tipo de pessoa que lia absolutamente tudo
(atualmente tenho uma tendência a gostar mais de livros com personagens
LGBTQIA+, acho um caminho sem volta quando começamos a ler livros com mais
representatividade e diversidade hahaha), mas quando eu passei a me entender
como mulher lésbica, lembro de correr atrás de livros, filmes e séries e achar pouquíssima
coisa e isso foi bem desesperador para mim, que me assumi em um ambiente onde
ninguém a minha volta era lgbtqia+. Quando eu me assumi, isso automaticamente
refletiu no que eu escrevia, porque já que quase ninguém escrevia sobre como é
ser uma mulher como eu, uma mulher lésbica, então, eu faria isso. Acho que hoje
o cenário é outro, temos várias meninas escrevendo e fico feliz sempre que vejo
uma autora nova. Mas ainda é pouco, precisamos sim de representatividade,
inclusive, dentro da própria comunidade levando em consideração todos os
recortes possíveis. O meu primeiro livro publicado foi Entre Páginas, que é um
romance policial com toque de misticismo, é um livro bem diferente do que eu
escrevo hoje em dia, mas sou muito grata por ele fazer parte da minha
trajetória e por tudo que eu aprendi com ele.
Todo escritor também é leitor. Qual foi o primeiro livro lésbico que
você leu e como foi a sensação?
- O
primeiro livro com personagem lésbica que eu li foi Toque de Veludo, da Sarah
Waters. Eu tinha assistido a minissérie da BBC e aquele ambiente de Inglaterra
vitoriana com reviravoltas e mulheres amando mulheres me encantou na hora. Acho
que não tem como explicar a sensação de ler algo e pensar: caramba, eu também
sinto isso. Quando eu descobri que a série tinha um livro, corri para comprar e
a Sarah Waters é uma das minhas escritoras favoritas da vida até hoje.
Onde a gente pode encontrar referências lésbicas, quando ainda falta
tanta representatividade pra nossa letra?
- Acho
a internet uma ótima ferramenta para encontrar referências lésbicas. É lógico
que temos que ter cuidado com o conteúdo que é consumido na internet, mas temos
bastante conteúdo, inclusive gratuito. Temos mulheres lésbicas incríveis que
produzem os mais variados tipos de conteúdo. Para quem gosta de ler, por
exemplo, tem o Lettera, um site que só pública romances/contos/fanfics de
mulheres amando outras mulheres.
Continuando na questão da representatividade e da nossa voz. Eu sei que
você é uma grande apreciadora de filmes e séries, como você vê a questão da
representatividade lésbica nesses lugares? Você sente que isso alcança todo
mundo ou fica muito restrito à nós?
- Bom, eu acho que, se comparado
há alguns anos, nós avançamos um pouco. Se observarmos a programação dos
cinemas, pelo menos em cidades grandes, conseguimos ver um ou outro filme sobre
mulheres amando mulheres entrar para o catálogo. Mas acho que ainda é pouco.
Tanto que esses filmes quase não chegam em cinemas populares e, muito menos, em
cidades mais afastadas. Acredito que o serviço de streaming tem sido um ótimo
aliado, encontramos algum conteúdo em plataformas como Netflix, HBO GO, Amazon
Prime e Telecine Play. Todavia, assim como os livros, ainda é pouco. E temos
ainda a questão de muitas vezes, ainda que assistindo um filme com uma
personagem lésbica, não nos sentirmos representadas.
Falando de mim, nesse agosto eu tô sentindo muita falta da voz da mulher
lésbica. Como já tinha te falado, eu sinto que esse mês tá muito restrito a nós
mesmas, só a gente tá falando. Na minha opinião isso é muito sintomático da
sociedade em que a gente vive. Como você tá se sentindo nesse mês da
visibilidade?
- Eu
também sinto o vazio de ecoarmos nossa voz só para a comunidade e tenho visto
tanto ódio dentro da própria comunidade em um mês que deveria ser sobre a nossa
união, que tenho me assustado um pouco.
Agora falando das suas histórias! Recentemente você publicou Garotas
como eu e ele é um YA, os seus outros livros tem uma pegada mais adulta. Como
foi escrever uma narrativa adolescente e que tem tanto peso?
- Eu
amo literatura YA desde sempre, depois de policial, é meu gênero literário
favorito. Mas me aventurar a escrever um YA foi uma experiência incrível e que
me ensinou muito. Escrever Garotas como eu foi um desafio a cada parágrafo e
foquei bastante minha pesquisa na comunicação com o público alvo. Escrevi o
tipo de livro que eu gostaria de ter lido aos quatorze anos, sabe? A Marília é
uma das personagens mais reais e profundas que eu já escrevi. Sei que não
devemos ter um livro favorito, mas Garotas como eu tem um espaço muito querido
dentro do meu coração hahahaha.
Sobre amor e liberdade e valentina, como que foi esse processo de
escrita?
- Amor
& Liberdade e Valentina foram escritos em tempos bem diferentes da minha
vida, mas eles têm pontos em comum, além da cidade. Comecei a escrever Amor
& Liberdade em 2014 e Valentina em 2017. Ambos foram o tipo de livro que eu
brinco que me roubaram a vida por algumas semanas hahaha. Eles foram escritos
em um curto espaço de tempo, Amor & Liberdade em um mês e meio e Valentina
em um mês, além disso, são livros com personagens e problemáticas bem reais (e isso é
algo que curto muito escrever e nenhuma das minhas personagens são perfeitas,
você pode amá-las e odiá-las no mesmo livro). Cada livro tem um processo de
escrita diferente, mas toda vez que um romance “rouba” minha vida por algumas
semanas, eu sinto que é uma história que merece ser compartilhada com o mundo.
Seus livros tem playlists, você escreve ouvindo música? Se não, como
você monta a playlist do livro, que por sinal orna perfeitamente com a
história!
- Ahhh,
obrigada! Fico feliz que tenha curtido as playlists. Muitas vezes quando estou
escrevendo, imagino o livro como um filme com trilha sonora. Mas não consigo
escrever ouvindo música porque acabo perdendo a concentração, são raras as
cenas que já escrevi com música. Anoto todas as músicas que, de certa forma, me
inspiraram para escrever o livro e monto a playlist ao final.
Eu vejo que muitos autores falam dos produtores de conteúdo literário
são fundamentais pra divulgação e sucesso dos livros deles. Pra você, como isso
se dá, levando em conta que você escreve livros lésbicos e não é todo mundo que
lê esse tipo de história?
- Eu
vejo os produtores de conteúdo como uma ponte fundamental entre o autor e o
leitor. As informações estão na internet hoje e recebemos uma quantidade muito
elevada de informação todos os dias. O caminho do autor até o leitor sem um
produtor de conteúdo é ainda mais árduo. Então, vejo os produtores de conteúdo,
falando mais especificamente dos produtores ligados à literatura, como
profissionais essenciais para a difusão da literatura, ainda mais em um país
como o nosso, que atualmente tenta das mais diversas formas dificultar o acesso.
Em um tweet, o que a gente pode esperar dos seus livros?
- Bom,
nos meus livros vocês encontram mulheres lésbicas que amam mulheres, muito
drama sapatão e algumas taquicardias (algumas boas, outras tensas hahaha).
Pra finalizar, deixa um recado pras pessoas que ainda não te conhecem e
conta onde a gente te acha nas redes!
- Gostaria de
agradecer mais uma vez ao espaço e convidar todo mundo para conhecer o meu
trabalho (a maioria dos meus livros estão disponíveis de graça pelo Kindle Unlimited,
galera, bora ajudar uma escritora lésbica a pagar os boletos). Aproveito também
para dizer que o apoio de vocês é muito importante para todas nós, então, se
você viu um conteúdo legal produzido por uma lésbica, comenta, se leu um livro
e gostou, deixa uma avaliação na Amazon, se viu um filme, indica para as
amigas. É só assim que vamos deixar de ser invisíveis. Para quem quiser
conhecer mais sobre o meu trabalho, aí vai:
Instagram/twitter: @lisselwyn
Blog: https://lisselwyn.blogspot.com/
Facebook: https://www.facebook.com/lisselwynescritora/