Dandara, um grito de amor.


Escrevo esse texto com pesar, com dor, com um sofrimento fora de mim. Quando tava na metade desse texto, parei pra assistir a Série que tá passando na Globo, que chama Segunda Chamada. Acabei recebendo de amigos que, naquele momento, perdemos mais uma. Lorena Vicente, travesti e aluna do EJA foi assassinada por ser uma Travesti. Lorena, eu não te conheço, mas sinto a sua perda. Quantas Lorenas, Dandaras e Brunas ainda precisam entrar na estatística, pra alguma autoridade tomar alguma providência?

Hoje falaremos sobre isso, mais especificamente sobre a história de Dandara. Brutalmente assassinada no dia 15 de fevereiro de 2017. Violentada, violada, espancado e vítima de uma emboscada. O crime parou o país e até hoje Dandara é símbolo de luta, de resistência, de amor e de coisas boas dentro da comunidade das Travestis. 

Mas hoje, não falaremos sobre a morte dela. Falaremos sobre a vida dela. O Casulo Dandara foi escrito por Vitoria Holanda, amiga de infância da moça é que ajudou a investigar e prender os envolvidos.



A história começa quando Vitória se muda para o Conjunto Ceará e conhece a Dandara (nessa época, ela ainda era entendida como menino) e elas viram amigas. Dandara passa a frequentar a casa de Vitória e elas criam um laço incrível. Mas como cada pessoa é única, Dandara acabou tomando caminhos diferentes, mas nem por isso deixou de amar a sua Diva - forma como ela se referia a Vitória.

E é aí que começamos a entender quem foi Dandara. O envolvimento dela com outras pessoas, com a prostituição, a relação dela com a família (já que, entre a família, ela tinha mais uma Irmã travesti e uma lésbica), os sonhos dela, quando ela sai do Ceará e vem pra São Paulo tentar a vida. Tudo, é um relato desde a infância até a morte da Dandara.

Uma das coisas que mais me cativou foi saber que a Dandara só queria ser feliz. Comprar o cigarro dela e tomar o café, que ela brincava com todo mundo, ela era a alegria dos lugares que chegava! Uma pessoa iluminada, um ser de luz que ajudou todo mundo da forma que pode, mesmo desgastada com a doença (na época da prostituição, Dandara contraiu HIV) ela fazia a vida de todo mundo mais feliz.



É realmente uma história de calçada. Dandara sempre voltava pra casa e pra calçada onde todos passavam horas conversando noite adentro, cantando, se descobrindo, se entendendo, tentando entender quem eles eram (considere que o livro se passa mais ou menos na década de 80), numa época em que não se falava sobre isso abertamente.

Foi incrível ver Dandara saindo do Casulo, assim como falado no livro, ver o entendimento dela, que ela não era é um homem gay, ela é Dandara. 

Muitas vezes eu não percebia que estava sendo afetada pelo livro, só percebia quando eu fechava e não conseguia mais parar de pensar naquilo. Imagine, eu tenho um enorme círculo de amigos que, segundo estatísticas, não passarão dos 35 anos; enquanto eu, como Cis, tenho uma expectativa de vida de 70 anos, mesmo sendo lésbica. Eu vou enterrar todes es minhes amigues?




Esse livro merece ser lido e também daria um ótimo filme documental. 

Dandara vive! Ela marcou a vida de muita gente, pra sempre será lembrada como uma pessoa feliz, vaidosa, brincalhona e extrovertida. 

Agora eu pergunto, onde estão as pessoas que gritaram o nome da Dandara aos 4 ventos tomando providências? Quantas ainda precisam morrer? Quando alguém vai fazer alguma coisa? Quando eu vou parar de enterrar pessoas que eu amo? Quando? Porque por mais barulho que eu faça, não consigo sozinha.

19 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Ainda não tive a oportunidade de ler essa obra, mas minha mãe leu e amou. Sem dúvidas deve ser uma história tocante e muito triste. Adorei tua resenha!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  2. Nossa, que post forte. Deu pra sentir aqui a emoção em escrever essa resenha. Imagino que a história deve ser muito tocante também, pois saber um pouco mais sobre uma pessoa, ainda mais que já se foi e de forma brutal, nos faz sentir mais íntimos.
    Gostei de saber mais um pouco sobre Dandara. Obrigada por essa luz.
    Abraços

    Carol, do Coisas de Mineira

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  3. Esse livro deve ser muito tocante, a história de Dandara sempre me emociona. Saber um pouco de quem ela foi deixa tudo ainda mais profundo... Espero que ela nunca seja esquecida, certamente esse livro vai contribuir para manter sua memória sempre viva.

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  4. Emocionante, cativante e revoltante! Exatamente como você diz no post, quantas Dandaras precisaram ser martirizadas por uma causa até que todos tomem não uma decisão, mas conscientização de que somos todos iguais independente de qualquer circunstância, raça, gênero e etc e etc e etc… muito triste a história, muito emocionante a iniciativa do livro e que todos façamos a nossa parte por um mundo melhor!

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  5. Olá, tudo bom?
    Por meio da sua resenha sentimos as suas emoções no decorrer da leitura. Ainda não conhecia o livro, mas me parece uma narrativa interessante, e como você colocou quantas pessoas mais terão que morrer para que realmente se tome uma providência?
    Gostei de saber um pouco mais sobre Dandara.

    Bjux ;)
    Entrelinhas

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  6. Oi,

    Consegui sentir sua indignação daqui e isso é bem doloroso. Me dói pensar que ainda vamos ter muitas Dandaras por aí, que vão ser brutalmente violadas e assassinadas e que nada será feito a respeito. Ainda não conhecia o livro, mas deve ser bem tocante e de certa forma um grito de guerra. Que um dia essa realidade possa ser mudada e precisamos trabalhar para isso...

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  7. Oiieee

    Com certeza deve ser uma história que revolta, que faz a gente sofrer e querer gritar, por conta da injustiça, de saber que tão pouco é feito mesmo quando tragédias assim acontecem. Achei bacana a amiga escrever um livro que permitiu ao leitor conhecer a Dandara da infância, a Dandara que sonhou, que foi pra Sp só buscar uma vida melhor. Meu Deus, que história mais dura, deve ser bem sofrido ler e lidar com esse final triste e desumano que ela teve, esperemos que um dia tenhamos um país melhor pra viver, que no minimo tenha mais respeito pela vida.

    Beijos

    www.derepentenoultimolivro.com

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  8. Oi, tudo bem? Que relato mais triste. Com certeza muitas pessoas sentem a falta dela. É triste também pensar que isso não é ficção, aconteceu com alguém de verdade. Não tenho conhecimento desse gênero em específico mas acredito que a violência precisa ser combatida. Não com mais guerras ou discussões mas de forma pacífica. Conscientizado quanto aos Direitos Humanos. Um abraço, Érika =^.^=

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  9. Olá

    O mais interessante disso tudo é que nos sentamos em nossas casas e continuamos vivendo como se nada estivesse acontecendo. Vivemos tendo alguns problemas comuns,mas que para pessoas como a Dandara não passavam de brincadeiras porque ela sim tinha problemas enormes para resolver e infelizmente foi vítima de uma sociedade que tudo aplaude e nada faz.Beijos

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  10. Oie, tudo bem? Tinha visto esse livro por aí já, mas não sabia que narrava uma narrativa real. É mesmo triste pensar que pessoas da comunidade T têm tantas poucas chances de terem uma vida feliz. Eu leria para saber mais sobre a Dandara, pois a conheço de notícias tristes, é bom o livro nos mostrar o antes da vida dela. Adorei a dica e adorei seu post, muito humano <3

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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  11. Eu ainda não li esse livro, mas tenho uma amiga que super recomenda! Agora, com o seu artigo, estou ainda mais curiosa pra cair de cabeça na leitura. ♥

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  12. Olá, Dandara!

    Eu já vi esse livro no instagram, mas pouco sabia sobre o mesmo e muito menos que trata-se de uma narrativa real. Deve ser uma leitura extremamente tocante/emocionante.

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  13. Olá, tudo bem Dandara?

    Eu confesso que não conhecia o livro "Um grito de amor" e achei interessante a premissa. Me parece ser uma leitura repleta de emoções e super envolvente. Eu gostei da sua dica!!
    Abraço!

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  14. Li seu post com lágrimas nos olhos. Lembro do caso e foi muito chocante. Não sabia que tinha um livro, mas vou providenciar, pois preciso ler. Parabéns pelo tema e poxa, que seja um tributo a Lorena.

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  15. Olá!
    Nossa, deve ser uma obra tão marcante e muito triste, uma leitura realmente intensa! E extremamente necessária, já que como você disse, sozinha ninguém consegue, histórias como a de Lorena precisam parar de ter um desfecho tão triste e violento, e ficamos nos perguntando quando isso vai mudar? Quando nossa sociedade hipócrita tomara alguma atitude né? Ótimo post!

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  16. Eu li a sua publicação com lágrimas.
    Só pela sua resenha eu consigo sentir a carga emocional e, claro, a importância dessa leitura.

    Preciso ler
    Sai da Minha Lente

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  17. Eu não conhecia o livro e acredito que deva ser uma leitura difícil em alguns momentos e também muito importante. Espero ter a oportunidade de ler em breve

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  18. Olá não conhecia o livro mais pela sua resenha mostra como o livro é impactante e isso me deixou com vontade de conhecer mais sobre o livro

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  19. eu sempre fico chocada com a brutalidade do ser humano.
    infelizmente dandara nao foi a primeira e nem sera a ultima
    nao sabia desse livro e sinceramente, vou ler ele, pois ela merece ser lembrada

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