Oi, você aí do outro lado!

Hoje eu vim conversar sobre a experiência de ter lido “Estou feliz que minha mãe morreu”, um livro de memórias escrito pela Jennette McCurdy que ficou conhecida como a Sam de iCarly.


Antes de começar esse texto gostaria de alertar que o livro aborda temas que podem ser sensíveis para algumas pessoas, como anorexia, bulimia, abuso de álcool e abuso materno. Respeite seus limites e procure ajuda especializada.



Comecei a ler esse livro despretensiosamente pelo simples motivo que o título me chamou atenção e eu não tinha visto ninguém na minha bolha falando sobre o livro e logo nas primeiras páginas já me bateu o desespero e foi só piorando.


Quando ela tinha seis anos, ela fez seu primeiro teste para atriz por imposição da mãe que queria que ela se tornasse uma estrela. Então, começaram as mudanças. Jennette, uma criança, precisou mudar a cor do cabelo, mudar as sobrancelhas e os cílios, começou a fazer uma “restrição alimentar” que lhe foi ensinada pela mãe, onde ela comia pouquíssimo e passava o dia todo se pesando. Ela achava que a mãe estava fazendo o que era melhor pra sua única filha, levando ela a testes e mais testes, fazendo a garota decorar textos quando deveria estar brincando e fazendo modificações em sua aparência.


Jennette logo começou a fazer sucesso e a sustentar sua família e sua mãe ainda mandava e desmandava em sua vida, ela nunca decidiu nada por si própria e quando surgia um impulso de fazer algo por sua vontade a mãe logo a reprimia e a manipulava de formas absurdas. Ela teve que ser banhada pela mãe até os dezesseis anos, teve que mostrar seu histórico de conversas a vida toda e não podia ter amigos. Tudo isso acarretou em uma série de comportamentos autodestrutivos e logo se colocou em relacionamentos abusivos, desenvolveu transtornos alimentares e tinha crises ansiosas terríveis.


Essa leitura, que na verdade foi um audiolivro, me deixou abismada em muitos aspectos. Não fiquei surpresa com nada do que foi relatado, mas sim abismada com a crueldade de alguns adultos. Eu penso que um filho não é, de maneira alguma, uma extensão de seu responsável, ninguém deveria nascer já com o destino “traçado” ou com uma tonelada de expectativas sobre as costas. Tanto é que quando a mãe da Jennette morre em decorrência do câncer, ela fica perdida porque ela não aprendeu a pensar sozinha, a decidir coisas básicas da vida dela sozinha e se livrar dessas amarras levou muito tempo, muita terapia e muita ajuda. É triste pensar que as pessoas que deveriam ser um lugar seguro, uma fonte de acolhimento acabam por ser os causadores de feridas que jamais serão curadas.


O livro tem um tom meio engraçado e não consigo imaginar como deve ter sido revisitar todas as situações que foram retratadas. É uma leitura muito boa que traz vários questionamentos sobre ser mãe e ser filho de alguém, e como, muitas vezes a sociedade coloca isso como uma coisa sagrada, intocada e perfeita sendo que, algumas vezes não passa nem perto disso.